Tirar a carteira de motorista sempre foi um sonho meu. Desde muito nova
dizia que aprenderia a dirigir aos 18 anos. Como vocês sabem, não foi bem assim
que as coisas aconteceram.
Quando eu finalmente fiz 18 anos, meus pais não tinham condições de
pagar uma autoescola, pois os tempos eram difíceis e eles já pagavam minha
faculdade. Eu não trabalhava na época, só fazia estágio, e quando consegui um
emprego com um salário suficiente para pagar (aos 22 anos, ao passar no concurso
do Estado), já precisei juntar dinheiro para realizar outro grande sonho: o do meu
casamento.
Outras prioridades foram aparecendo, e eu nunca conseguia. Isso me
frustrava um pouco.
Até que, em abril do ano passado, minha sogra me fez uma surpresa: Veio
até a minha casa, me levou à autoescola, e pagou minhas aulas e o DUDA.
E esse foi o começo do plano de Deus para me ensinar lições muito
valiosas.
Antes de começar as aulas, pedi a Ele que me desse o dom de dirigir.
Pedi para que eu aprendesse tão bem, como se eu tivesse nascido para isso. E
então iniciei as aulas teóricas.
As teóricas eram maçantes. Eu não conseguia ir com tanta frequência e
nem passar muitas horas lá dentro.
[Preciso abrir um parêntese muito importante nessa história: Foi justamente
em abril que tive meu primeiro ataque de pânico. Os problemas da vida (falta de
dinheiro, problemas no trabalho, medo da violência, etc) me deixaram com uma
ansiedade absurda, que culminou num dos piores dias da minha vida: no carro
(meu marido guiando, claro), voltando do cinema, eu achei que fosse morrer.
Perdi o ar, minhas mãos suavam, minha cabeça doía. Meus dedos, com espasmos, ficaram
tão retorcidos, que eu não conseguia movê-los.
O coração acelerado, a realidade distorcida. Foi horrível! E, infelizmente não foi o último. Um psiquiatra
diagnosticou como Síndrome do Pânico. Logo eu, que nunca fui de ter medo de
nada...]
Pois bem... a ansiedade dificultou demais a conclusão das aulas
teóricas. Em alguns dias eu acordava animada e conseguia passar o dia na autoescola.
Porém, em outros, não conseguia sequer sair de casa. Eram 45 horas de aulas que
eu precisava concluir. Levei 3 meses para fazê-las.
Fiz a prova teórica em julho, pouco antes de viajar com meus pais. Todos
diziam que a prova era extremamente fácil, mas nem por isso eu deixei de ficar
nervosa. Para piorar as coisas, as minhas primeiras questões foram de mecânica,
assunto que eu pouco domino. Porém passei! Acertei bem mais do que o mínimo necessário.
Deus me deu mais essa vitória.
Por conta da viagem, só pude marcar meus treinos práticos para o início
de agosto. E ainda precisei fazer 5 aulas no simulador (uma espécie de
videogame bizarro, que deveria te ensinar os movimentos básicos, mas não serve pra
nada, na verdade).
E então comecei as aulas práticas! Não sabia qual carro escolher, então
escolhi o Ethios.
Só que eu também não sabia que o instrutor do Ethios estava no final de
suas férias. Meus três primeiros treinos foram com um instrutor maravilhoso! Ele
era um doce de pessoa! Me ensinou com a maior paciência sobre o carro, e foi
com ele que eu dei as minhas primeiras voltas.
Na primeira ou na segunda aula ele me perguntou se minha mãe dirigia.
Eu respondi que sim. Então ele me falou que eu tinha o dom de dominar o carro e
quis saber se isso era de família. Para ele, era incomum alguém que nunca tinha
pego um carro pra dirigir, ter o controle que eu tinha.
Eu entendi aquilo como uma confirmação de Deus ao meu pedido. Aquela
fala era uma resposta da oração que eu havia feito ante mesmo de iniciar as
aulas teóricas. O Senhor me capacitou para fazer aquilo.
No quarto treino eu conheci o Márcio, meu instrutor. Eu também pedi a
Deus que caísse com alguém legal, que fosse paciente. E o Márcio era. Ele me ensinou
muitas coisas na maior tranquilidade. Até mesmo quando eu errava, ele tinha um
jeito tranquilo de me corrigir.
Ele sempre dizia que tinha uma teoria louca: os piores alunos dele eram
da área da educação e da saúde. E eu, estranhamente, fugia à essa regra.
Quando concluí minhas aulas, fiquei esperando um tempo até que o detran
marcasse minha prova. E foram quase 3 semanas sem treinar, então paguei por um
simulado, que é uma aula no local da prova, no fim de semana anterior ao dia da
avaliação.
No dia do simulado eu fiquei meio tensa. Eram 3 alunos homens + o
instrutor no carro. Só eu de mulher.
Só quem é mulher pode entender uma situação dessas: existe um
preconceito social muito grande de que mulher não sabe dirigir direito. E embora
nenhum deles tenha feito referencia a isso, eu estava me sentindo mal sozinha,
sem nenhuma menina por perto. Isso me
travou um pouco. Fiz voltas ruins, pois eles ficaram dentro do carro na minha
vez de treinar. Porém minhas balizas foram perfeitas, já que estava sozinha,
apenas sendo observada pelo meu instrutor.
[Mais um parêntese: Eu tenho ótimas referências de motoristas femininas.
Pego carona com duas colegas de trabalho maravilhosas, minha mãe dirige bem, as
tias do meu esposo também... e foi sempre um grande incentivo observá-las. Sempre
que pegava carona com elas, Deus me lembrava de que essa construção social era
uma grande mentira, e que Ele nos capacita para fazer tudo.]
Eu orei para que conseguisse passar na prova. Fui confiante e levemente
nervosa.
Peguei dois avaliadores terríveis. Um deles, muito grosseiro. Errei uma
seta, esqueci outra. Reprovei.
Foi extremamente rápido. Saí do carro chorando, voltei pra casa chorando,
achando que tinha sido abandonada por Deus. E eu fui tão injusta com Ele! Deus
sempre foi fiel comigo, e eu agi como uma criança mimada, que não ganhou o que
queria na hora que queria.
Eu me envergonho de dizer isso, mas sei que é importante citar que Deus
é fiel até mesmo quando não somos. Eu me arrependi, e Ele me perdoou.
Precisei pagar outro DUDA, outro aluguel de carro, fazer outro
simulado.
Esperei mais um mês para uma nova prova. Já era novembro.
Na segunda prova fiz uma baliza perfeita. Na hora de sair com o carro da
vaga... o nervosismo fez com que minha perna me traísse: perdi o ponto da embreagem
e morri com o carro DUAS VEZES.
Reprovada de novo.
Outro aluguel de carro, outro DUDA.
Da primeira vez, todos os meninos que foram comigo passaram, menos eu.
Dessa segunda vez, o único colega que estava no carro, também reprovou. Mas
essa não foi a única diferença: As avaliadoras eram mais tranquilas, mesmo
assim não consegui. E dessa vez eu não chorei, e também não coloquei a culpa em
Deus.
Optei por fazer a prova só em janeiro.
Não quis tentar em dezembro, pois ia tentar trabalhar meu nervosismo.
Mas há um problema em não chorar: Não coloco a dor para fora. Passei 2 meses ansiosa, tendo pesadelos,
acordando de madrugada com a cena da reprovação na minha cabeça. Eu não queria
falar na prova, nem pensar nela. Toda vez que alguém falava no assunto, eu sentia
meu coração congelar de medo.
Até que faltando uma semana pra prova, eu tive uma crise de ansiedade:
chorei até dormir. Dois dias depois, tive outra ainda pior: chorava sem parar!
Achei que ia precisar ir ao médico pedir um calmante, pois eu não sabia
controlar aquela ansiedade. Até que resolvi mandar uma mensagem para a minha
pastora. Eu não sou de fazer isso, detesto incomodar as pessoas. Porém, dessa
vez, foi a melhor coisa que eu fiz. Ela respondeu prontamente, e me enviou boas
palavras. Ela também me aconselhou a orar, mas eu não conseguia, então pedi
para o meu esposo fazer isso por mim. Me acalmei e consegui dormir.
Aí eu resolvi tomar uma decisão que foi ESSENCIAL na minha vida: retirar
o que mais ocupava meu tempo e dedica-lo a Deus.
De domingo até quinta eu excluí as redes sociais do meu celular. Mantive
apenas o whatsapp para contato básico com a minha família e amigos mais próximos.
Durante o dia a internet ficava desligada, só ligava pouco antes de dormir,
para ver se estava tudo bem com as pessoas com quem falo diariamente.
Meu objetivo com isso não era passar na prova (embora eu quisesse MUITO).
Mas eu precisava encontrar paz, pois não estava conseguindo viver do jeito que
estava.
Dediquei meus dias a estudar a Palavra. Li a bíblia, fiz resumos sobre
o que lia. Assisti mensagens sobre ansiedade no Youtube, ouvi louvores que me tranquilizavam.
A cada dia Deus me dava uma palavra nova.
Segunda-feira Ele disse que se eu apresentasse meus pedidos a Deus, a
Paz que excede todo o entendimento guardaria meu coração e minha mente. (Filipenses
4:6)
Terça-feira foi o dia de aprender com a história de Pedro andando sobre
as águas (Mateus 14:22-33) e entender a ação intencional de Jesus ao colocar os
discípulos naquela situação, para ensiná-los.
Quarta-feira eu pude entender que "a fé vem por se ouvir a
mensagem, e a mensagem é ouvida mediante a palavra de Cristo" (Romanos
10:17), e que eu deveria me expor à palavra dEle para adquirir fé. E também aprendi que "Sem fé é impossível
agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele existe e que
recompensa aqueles que o buscam." (Hebreus 11:6)
Eu O estava buscando, e Ele me recompensaria.
Por fim, quinta-feira eu fui levada a estudar sobre Davi que, com
ousadia, enfrentou um homem de quase 3 metros de altura. Somente com a certeza
do poder do Deus que servia, Davi conseguiu vencer aquela batalha.
E o dia da prova chegou! Eu precisei
alimentar meu espírito orando e clamando, pedindo a presença
de Deus. Eu já sabia que só a presença de Deus me traria paz.
E eu senti meu espírito forte. O problema é que minha alma não
conseguia ficar no lugar dela, e meu corpo sentiu.
Já cheguei na autoescola passando mal. Não respirava direito. Estava
meio aérea, a realidade parecia distorcida. Algo bem parecido com as crises de pânico
que eu tive no ano passado.
No carro eu ia orando em pensamento, clamando para que Deus não me
abandonasse.
Quando cheguei no local da prova, pedi ajuda ao meu instrutor: “Márcio,
pelo amor de Deus, fala alguma coisa pra me acalmar. Eu to muito nervosa!”. Os
dois meninos e a menina que fariam prova também, se encaminharam ao local de
apresentar os documentos. E o meu instrutor me colocou sentada no carro e
tentou conversar comigo. Ele só disse verdades: que eu havia feito um treino
perfeito no dia anterior, que eu já era experiente, que eu dirigia bem.
Porém eu não consegui assimilar o que ele estava falando.
Quis ser a última do meu grupo a fazer a prova. Liguei para minha mãe e
pedi para ela orar por mim pelo telefone. E depois minha amiga Val ficou
enviando mensagens para o meu whatsapp, falando sobre Deus, me ajudando a me
acalmar.
Eu já estava ficando com medo de desmaiar. Minha cabeça estava dormente,
meus braços também. Meus polegares tortos e duros. Estava muito quente e eu só
suava pelas mãos.
Porém, Deus falava ao meu espírito que Ele estava preparando o
caminho. Essas eram as palavras que eu
ouvia ao meu coração.
Era impressionante: como se duas pessoas habitassem em mim. Uma estava histérica,
gritando, fazendo um escarcéu! E a outra, quase sussurrando, dizia que o
caminho estava preparado e eu iria conseguir.
Eu vi um colega passar e dois reprovarem.
Quando finalmente chegou minha vez, eu conversei com a examinadora, que
tentou me acalmar. Ela disse que era normal ficar nervosa. Falou algumas outras
coisas que nem me lembro direito! Eu
estava muito fora da realidade!
Fiz uma baliza muito zoada, quase perdi o controle! Porém não errei nenhuma seta sequer, mesmo
tendo feito uns 3 movimentos pra esquerda e uns 4 pra direita com o carro.
Demorei muito para colocar o carro na vaga, e quando finalizei, o cronômetro
marcava 10 segundos. Faltavam apenas 10 SEGUNDOS para eu ser eliminada, mas eu
consegui.
Saí com o carro, controlei a perna esquerda e NÃO DEIXEI O CARRO
MORRER. Posicionei perfeitamente ao lado da baliza.
Na hora de sair para o percurso, eu fui com mais tranquilidade. Lembrei
de absolutamente tudo o que eu precisava fazer, mesmo tendo feito o último simulado
há 2 meses atrás!
Quando precisei passar a terceira marcha, ouvi a examinadora, que
estava no banco de trás, dizer: “Não pode olhar para a marcha enquanto dirige
não, tá Thalita?” Eu pedi desculpas e
prossegui.
Até que o examinador ao meu lado me avisou que eu poderia estacionar o
carro, que o percurso estava terminando.
Quando me autorizaram a desligar o carro, eu não acreditei! Perguntei: E aí?
“Você passou”
Chorei, glorifiquei a Deus. Corri em direção do meu instrutor e o abracei,
agradecendo.
“Eu disse que tuas lágrimas hoje seriam de alegria!” - No dia anterior, ele me afirmou que eu
teria um dia de comemorações.
E assim foi. Eu JAMAIS pensei que seria capaz de realizar uma prova em
meio a uma crise de pânico. Foi SOBRENATURAL.
Só perdi ponto porque olhei pra marcha, rs.
E sabem o que eu acho mais curioso?
Eu pensei que Deus me daria calma e tranquilidade para realizar a prova.
Mas não. Ele me fez passar por ela no
meio de uma tempestade dentro de mim. Uma tempestade que eu não conseguia
acalmar. Mas Ele me ensinou que quando eu fortifico meu espírito, e quando Ele
prepara o caminho, o sobrenatural acontece.
Assim como Pedro, eu também enfrentei um mar revoltado, um vento terrível!
Só que tudo isso acontecia dentro de mim. Então o meu espírito, forte,
alimentado, chegou até Jesus. E eu conquistei minha vitória.
Esse texto enorme é para honrar o nome dAquele que fez o impossível
acontecer na minha vida.
Espero que vocês se sintam inspirados a fazer o mesmo:
Deleita-te também no Senhor, e te concederá os desejos do teu coração.
Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele o fará (Salmos 37:4-5).