segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

A HISTÓRIA DA MINHA CNH


Tirar a carteira de motorista sempre foi um sonho meu. Desde muito nova dizia que aprenderia a dirigir aos 18 anos. Como vocês sabem, não foi bem assim que as coisas aconteceram.
Quando eu finalmente fiz 18 anos, meus pais não tinham condições de pagar uma autoescola, pois os tempos eram difíceis e eles já pagavam minha faculdade. Eu não trabalhava na época, só fazia estágio, e quando consegui um emprego com um salário suficiente para pagar (aos 22 anos, ao passar no concurso do Estado), já precisei juntar dinheiro para realizar outro grande sonho: o do meu casamento.
Outras prioridades foram aparecendo, e eu nunca conseguia. Isso me frustrava um pouco.
Até que, em abril do ano passado, minha sogra me fez uma surpresa: Veio até a minha casa, me levou à autoescola, e pagou minhas aulas e o DUDA. 

E esse foi o começo do plano de Deus para me ensinar lições muito valiosas.

Antes de começar as aulas, pedi a Ele que me desse o dom de dirigir. Pedi para que eu aprendesse tão bem, como se eu tivesse nascido para isso. E então iniciei as aulas teóricas.
As teóricas eram maçantes. Eu não conseguia ir com tanta frequência e nem passar muitas horas lá dentro.

[Preciso abrir um parêntese muito importante nessa história: Foi justamente em abril que tive meu primeiro ataque de pânico. Os problemas da vida (falta de dinheiro, problemas no trabalho, medo da violência, etc) me deixaram com uma ansiedade absurda, que culminou num dos piores dias da minha vida: no carro (meu marido guiando, claro), voltando do cinema, eu achei que fosse morrer. Perdi o ar, minhas mãos suavam, minha cabeça doía. Meus dedos, com espasmos, ficaram tão retorcidos, que eu não conseguia movê-los.  O coração acelerado, a realidade distorcida. Foi horrível!  E, infelizmente não foi o último. Um psiquiatra diagnosticou como Síndrome do Pânico. Logo eu, que nunca fui de ter medo de nada...]

Pois bem... a ansiedade dificultou demais a conclusão das aulas teóricas. Em alguns dias eu acordava animada e conseguia passar o dia na autoescola. Porém, em outros, não conseguia sequer sair de casa. Eram 45 horas de aulas que eu precisava concluir. Levei 3 meses para fazê-las.

Fiz a prova teórica em julho, pouco antes de viajar com meus pais. Todos diziam que a prova era extremamente fácil, mas nem por isso eu deixei de ficar nervosa. Para piorar as coisas, as minhas primeiras questões foram de mecânica, assunto que eu pouco domino. Porém passei! Acertei bem mais do que o mínimo necessário. Deus me deu mais essa vitória.

Por conta da viagem, só pude marcar meus treinos práticos para o início de agosto. E ainda precisei fazer 5 aulas no simulador (uma espécie de videogame bizarro, que deveria te ensinar os movimentos básicos, mas não serve pra nada, na verdade).

E então comecei as aulas práticas! Não sabia qual carro escolher, então escolhi o Ethios.

Só que eu também não sabia que o instrutor do Ethios estava no final de suas férias. Meus três primeiros treinos foram com um instrutor maravilhoso! Ele era um doce de pessoa! Me ensinou com a maior paciência sobre o carro, e foi com ele que eu dei as minhas primeiras voltas.

Na primeira ou na segunda aula ele me perguntou se minha mãe dirigia. Eu respondi que sim. Então ele me falou que eu tinha o dom de dominar o carro e quis saber se isso era de família. Para ele, era incomum alguém que nunca tinha pego um carro pra dirigir, ter o controle que eu tinha.

Eu entendi aquilo como uma confirmação de Deus ao meu pedido. Aquela fala era uma resposta da oração que eu havia feito ante mesmo de iniciar as aulas teóricas. O Senhor me capacitou para fazer aquilo.

No quarto treino eu conheci o Márcio, meu instrutor. Eu também pedi a Deus que caísse com alguém legal, que fosse paciente. E o Márcio era. Ele me ensinou muitas coisas na maior tranquilidade. Até mesmo quando eu errava, ele tinha um jeito tranquilo de me corrigir.
Ele sempre dizia que tinha uma teoria louca: os piores alunos dele eram da área da educação e da saúde. E eu, estranhamente, fugia à essa regra.

Quando concluí minhas aulas, fiquei esperando um tempo até que o detran marcasse minha prova. E foram quase 3 semanas sem treinar, então paguei por um simulado, que é uma aula no local da prova, no fim de semana anterior ao dia da avaliação.

No dia do simulado eu fiquei meio tensa. Eram 3 alunos homens + o instrutor no carro. Só eu de mulher. 
Só quem é mulher pode entender uma situação dessas: existe um preconceito social muito grande de que mulher não sabe dirigir direito. E embora nenhum deles tenha feito referencia a isso, eu estava me sentindo mal sozinha, sem nenhuma menina por perto.  Isso me travou um pouco. Fiz voltas ruins, pois eles ficaram dentro do carro na minha vez de treinar. Porém minhas balizas foram perfeitas, já que estava sozinha, apenas sendo observada pelo meu instrutor.

[Mais um parêntese: Eu tenho ótimas referências de motoristas femininas. Pego carona com duas colegas de trabalho maravilhosas, minha mãe dirige bem, as tias do meu esposo também... e foi sempre um grande incentivo observá-las. Sempre que pegava carona com elas, Deus me lembrava de que essa construção social era uma grande mentira, e que Ele nos capacita para fazer tudo.]

Eu orei para que conseguisse passar na prova. Fui confiante e levemente nervosa.

Peguei dois avaliadores terríveis. Um deles, muito grosseiro. Errei uma seta, esqueci outra. Reprovei.

Foi extremamente rápido. Saí do carro chorando, voltei pra casa chorando, achando que tinha sido abandonada por Deus. E eu fui tão injusta com Ele! Deus sempre foi fiel comigo, e eu agi como uma criança mimada, que não ganhou o que queria na hora que queria.

Eu me envergonho de dizer isso, mas sei que é importante citar que Deus é fiel até mesmo quando não somos. Eu me arrependi, e Ele me perdoou.

Precisei pagar outro DUDA, outro aluguel de carro, fazer outro simulado.

Esperei mais um mês para uma nova prova. Já era novembro.

Na segunda prova fiz uma baliza perfeita. Na hora de sair com o carro da vaga... o nervosismo fez com que minha perna me traísse: perdi o ponto da embreagem e morri com o carro DUAS VEZES.  Reprovada de novo.

Outro aluguel de carro, outro DUDA. 

Da primeira vez, todos os meninos que foram comigo passaram, menos eu. Dessa segunda vez, o único colega que estava no carro, também reprovou. Mas essa não foi a única diferença: As avaliadoras eram mais tranquilas, mesmo assim não consegui. E dessa vez eu não chorei, e também não coloquei a culpa em Deus.

Optei por fazer a prova só em janeiro.  Não quis tentar em dezembro, pois ia tentar trabalhar meu nervosismo.

Mas há um problema em não chorar: Não coloco a dor para fora.  Passei 2 meses ansiosa, tendo pesadelos, acordando de madrugada com a cena da reprovação na minha cabeça. Eu não queria falar na prova, nem pensar nela. Toda vez que alguém falava no assunto, eu sentia meu coração congelar de medo.

Até que faltando uma semana pra prova, eu tive uma crise de ansiedade: chorei até dormir. Dois dias depois, tive outra ainda pior: chorava sem parar! Achei que ia precisar ir ao médico pedir um calmante, pois eu não sabia controlar aquela ansiedade. Até que resolvi mandar uma mensagem para a minha pastora. Eu não sou de fazer isso, detesto incomodar as pessoas. Porém, dessa vez, foi a melhor coisa que eu fiz. Ela respondeu prontamente, e me enviou boas palavras. Ela também me aconselhou a orar, mas eu não conseguia, então pedi para o meu esposo fazer isso por mim. Me acalmei e consegui dormir.

Aí eu resolvi tomar uma decisão que foi ESSENCIAL na minha vida: retirar o que mais ocupava meu tempo e dedica-lo a Deus.
De domingo até quinta eu excluí as redes sociais do meu celular. Mantive apenas o whatsapp para contato básico com a minha família e amigos mais próximos. Durante o dia a internet ficava desligada, só ligava pouco antes de dormir, para ver se estava tudo bem com as pessoas com quem falo diariamente.

Meu objetivo com isso não era passar na prova (embora eu quisesse MUITO). Mas eu precisava encontrar paz, pois não estava conseguindo viver do jeito que estava.

Dediquei meus dias a estudar a Palavra. Li a bíblia, fiz resumos sobre o que lia. Assisti mensagens sobre ansiedade no Youtube, ouvi louvores que me tranquilizavam.

A cada dia Deus me dava uma palavra nova.

Segunda-feira Ele disse que se eu apresentasse meus pedidos a Deus, a Paz que excede todo o entendimento guardaria meu coração e minha mente. (Filipenses 4:6)

Terça-feira foi o dia de aprender com a história de Pedro andando sobre as águas (Mateus 14:22-33) e entender a ação intencional de Jesus ao colocar os discípulos naquela situação, para ensiná-los.

Quarta-feira eu pude entender que "a fé vem por se ouvir a mensagem, e a mensagem é ouvida mediante a palavra de Cristo" (Romanos 10:17), e que eu deveria me expor à palavra dEle para adquirir fé.  E também aprendi que "Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam." (Hebreus 11:6)
Eu O estava buscando, e Ele me recompensaria.

Por fim, quinta-feira eu fui levada a estudar sobre Davi que, com ousadia, enfrentou um homem de quase 3 metros de altura. Somente com a certeza do poder do Deus que servia, Davi conseguiu vencer aquela batalha.

E o dia da prova chegou!  Eu precisei alimentar meu espírito orando e clamando, pedindo a presença de Deus. Eu já sabia que só a presença de Deus me traria paz.

E eu senti meu espírito forte. O problema é que minha alma não conseguia ficar no lugar dela, e meu corpo sentiu. 

Já cheguei na autoescola passando mal. Não respirava direito. Estava meio aérea, a realidade parecia distorcida. Algo bem parecido com as crises de pânico que eu tive no ano passado.

No carro eu ia orando em pensamento, clamando para que Deus não me abandonasse. 

Quando cheguei no local da prova, pedi ajuda ao meu instrutor: “Márcio, pelo amor de Deus, fala alguma coisa pra me acalmar. Eu to muito nervosa!”. Os dois meninos e a menina que fariam prova também, se encaminharam ao local de apresentar os documentos. E o meu instrutor me colocou sentada no carro e tentou conversar comigo. Ele só disse verdades: que eu havia feito um treino perfeito no dia anterior, que eu já era experiente, que eu dirigia bem.
Porém eu não consegui assimilar o que ele estava falando.

Quis ser a última do meu grupo a fazer a prova. Liguei para minha mãe e pedi para ela orar por mim pelo telefone. E depois minha amiga Val ficou enviando mensagens para o meu whatsapp, falando sobre Deus, me ajudando a me acalmar.

Eu já estava ficando com medo de desmaiar. Minha cabeça estava dormente, meus braços também. Meus polegares tortos e duros. Estava muito quente e eu só suava pelas mãos.

Porém, Deus falava ao meu espírito que Ele estava preparando o caminho.  Essas eram as palavras que eu ouvia ao meu coração.

Era impressionante: como se duas pessoas habitassem em mim. Uma estava histérica, gritando, fazendo um escarcéu! E a outra, quase sussurrando, dizia que o caminho estava preparado e eu iria conseguir.

Eu vi um colega passar e dois reprovarem.

Quando finalmente chegou minha vez, eu conversei com a examinadora, que tentou me acalmar. Ela disse que era normal ficar nervosa. Falou algumas outras coisas que nem me lembro direito!  Eu estava muito fora da realidade! 

Fiz uma baliza muito zoada, quase perdi o controle!  Porém não errei nenhuma seta sequer, mesmo tendo feito uns 3 movimentos pra esquerda e uns 4 pra direita com o carro. Demorei muito para colocar o carro na vaga, e quando finalizei, o cronômetro marcava 10 segundos. Faltavam apenas 10 SEGUNDOS para eu ser eliminada, mas eu consegui.

Saí com o carro, controlei a perna esquerda e NÃO DEIXEI O CARRO MORRER. Posicionei perfeitamente ao lado da baliza.

Na hora de sair para o percurso, eu fui com mais tranquilidade. Lembrei de absolutamente tudo o que eu precisava fazer, mesmo tendo feito o último simulado há 2 meses atrás! 

Quando precisei passar a terceira marcha, ouvi a examinadora, que estava no banco de trás, dizer: “Não pode olhar para a marcha enquanto dirige não, tá Thalita?”  Eu pedi desculpas e prossegui.

Até que o examinador ao meu lado me avisou que eu poderia estacionar o carro, que o percurso estava terminando.

Quando me autorizaram a desligar o carro, eu não acreditei!  Perguntei: E aí?

“Você passou”

Chorei, glorifiquei a Deus. Corri em direção do meu instrutor e o abracei, agradecendo.

“Eu disse que tuas lágrimas hoje seriam de alegria!”  - No dia anterior, ele me afirmou que eu teria um dia de comemorações.

E assim foi. Eu JAMAIS pensei que seria capaz de realizar uma prova em meio a uma crise de pânico. Foi SOBRENATURAL.

Só perdi ponto porque olhei pra marcha, rs.

E sabem o que eu acho mais curioso?  Eu pensei que Deus me daria calma e tranquilidade para realizar a prova. Mas não.  Ele me fez passar por ela no meio de uma tempestade dentro de mim. Uma tempestade que eu não conseguia acalmar. Mas Ele me ensinou que quando eu fortifico meu espírito, e quando Ele prepara o caminho, o sobrenatural acontece.

Assim como Pedro, eu também enfrentei um mar revoltado, um vento terrível! Só que tudo isso acontecia dentro de mim. Então o meu espírito, forte, alimentado, chegou até Jesus. E eu conquistei minha vitória.

Esse texto enorme é para honrar o nome dAquele que fez o impossível acontecer na minha vida.

Espero que vocês se sintam inspirados a fazer o mesmo:
Deleita-te também no Senhor, e te concederá os desejos do teu coração. Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele o fará (Salmos 37:4-5).




segunda-feira, 21 de agosto de 2017

#Decoração: Chá de Panela Picnic - Fernanda&Fernando

Eu estava ansiosa para fazer essa postagem!
Toda vez que eu recebo a responsabilidade de ajudar a decorar uma festa, crio uma grande expectativa. E com essa não foi diferente.
Domingo, dia 20 de agosto, foi o chá de panela dos meus amigos e cunhados, Fernanda e Fernando. O tema foi picnic!



Essa também foi a primeira festa em que usei meus móveis rústicos. E, sinceramente, estou apaixonada por eles. Ainda tenho só uma escadinha e duas mesas, mas já consigo um efeito legal com eles na decoração.



As únicas coisas alugadas nessa festa foram o painel e o suporte. Fora isso, ou são itens meus ou foram comprados por eles, especialmente para a composição do espaço.
Nós fizemos a cortina de corações (um trabalho a 8 mãos,rs) e pintamos os itens em MDF para que ficassem na cor da decoração. A Fernanda comprou tecido quadriculado vermelho (R$ 5,00 o metro, na Tico Tecidos de Madureira) para que uma das tias do Fernando (tia Merinha ❤) pudesse fazer a bainha.





A maioria comida foi cedida e feita pela nossa sogra . O bolo salgado, ganharam da amiga Thaís, e os doces foram feitos pela tia Maria.
Chá de panela é muito assim: família ajudando para que tudo saia perfeito e os noivos fiquem felizes. ❤



As lembrancinhas foram mini caixotinhos (R$1,20 na Florifesta, em Caxias) pintados com betume, cobertos com tecido quadriculado e, dentro deles, ia um saquinho de jujuba.




Além das lembrancinhas, a Fernanda também fez o bolo fake. Ela usou uma estrutura de isopor e cobriu com EVA.



Os centros de mesa estavam lindos! A combinação de papel doilie, uma garrafa e um pote de vidro decorados nunca falha! Em cada arranjo ainda entrou um caixotinho para deixar ainda mais gracioso.




Também fizemos uma estação de sucos, próxima à mesa das comidas. As garrafinhas de vidro (R$ 2 na Florifesta, em Caxias) e as suqueiras (R$ 10 reais, em Madureira) deram um toque a mais no espaço.




Preciso mostrar algumas fotos com a gente! Só para vocês verem o quão lindo fica um ambiente desses para as fotos, e para lembrar que família é tudo de bom. ❤



E mais imagens dos detalhes da decoração:













Fiz um pequeno vídeo da decoração também. Espero que gostem! :)


Um beijo e até a próxima!

sábado, 6 de maio de 2017

Nosso ensaio pré-casamento

O fato é: Não é fácil ser modelo quando você não está acostumado com isso. Principalmente quando você está numa tensão enorme porque as fotos TEM QUE FICAR BOAS, afinal, são do seu ensaio pré-casamento. 

Esse foi nosso primeiro ensaio oficial e estávamos meio tensos. Mesmo assim eu amo essa sessão de fotos! 

Hoje decidi compartilhar algumas das delas com vocês. 💕 

























Créditos das fotos: Gabriel Fernandes

Como sempre, espero que vocês tenham gostado. Qualquer dia eu posto as fotos do Trash pra vocês verem.
Beijinhos! 💋

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Transtorno dismórfico corporal


AVISO:
¹. Este é um post difícil de escrever e talvez seja difícil me fazer entender. Então, para deixar as coisas um pouco mais claras, preciso informá-los de que o texto está repleto de relatos de experiências pessoais. Todo o conteúdo do post é voltado para minha relação com a comida e com meu corpo. Você pode se identificar com o que eu direi, e também pode me achar uma doida (afinal de contas, ninguém é obrigado a entender minha mente)!
².  A  publicação contém fotos de terceiros. Procurei esconder o rosto dessas pessoas, pois ninguém merece ter uma foto antiga exposta na internet. 😜

Enfim... vamos lá:

Eu tinha 8 anos quando dois colegas da escola onde eu estudava resolveram me informar de que eu era gorda. Acho que a história começa assim, já que eu não lembro de ter questionado meu tipo físico ou me visto como uma criança gorda antes disso.

Eu, bem gordona (sqn) aos exatos 8 anos. 

Não foi algo pontual, um simples aviso, ou um comentário inocente. Foram dias, semanas, meses, um ano inteiro de massacre, que fizeram uma menina de 8 anos pedir pro pai parar de comprar biscoitos de chocolate.

Eu entre os gêmeos praticantes de bullying. E uma colega aleatória que nunca me defendeu.

Foi com 8 anos que eu parei de usar roupas de alça, mesmo durante o verão do Rio de Janeiro. Foi a partir dos 8 anos que eu deixei minha melhor amiguinha (quase 2 anos mais nova que eu) preocupada comigo, com medo que eu desenvolvesse anorexia – palavras dela, que eu jamais esqueci.

Eu comecei a chorar e sentir vergonha de mim mesma ainda muito novinha. Lembro com perfeição dos comentários dos adultos. “Thalita, você está gorda”, disse a avó de uma coleguinha da minha rua.
Sei que muitas pessoas conseguem lidar com isso numa boa e não desenvolvem nenhum transtorno por conta disso. Algumas emagrecem e pronto. Outras se aceitam e são felizes gordinhas. E eu? Bom... eu emagreci o suficiente pra uma menina da minha idade (e, vamos falar a verdade: eu tive amigos muito legais a partir dos 10 anos).

Ah, a influência da Avril Lavigne! hahaha

 A adolescência chegou e eu fui crescendo. Não consumia muitas besteiras, até porque, meus pais não tinham dinheiro pra me levar ao Mc Donald’s com frequência e nem incentivavam a vida de fast food.
Entretanto, eu nunca mais me vi magra. N U N C A  M A I S.
No ensino médio eu fiz amizade com duas meninas lindas e magras. Uma delas muito abaixo do peso, e eu acreditava que o corpo certo era o dela. O meu era inadequado, gordo. Muito gordo.

Eu e as migas magras.

Nessa época eu pesava entre 45kg e 48kg. Não passava disso. E eu já estava começando a considerar que, talvez, eu fosse uma pessoa magra (até porque minha avó Marly, hoje falecida, VIVIA dizendo o quanto eu estava magra demais pro gosto dela).

Aos 19 eu comecei a namorar e fazer estágio remunerado. A essa altura da vida eu já estava ganhando meu dinheiro e podia usá-lo pra comer coisas gostosas.
Foi uma boa fase. Eu estava feliz. Mas também estava aprendendo a ter uma relação perigosa com a comida: para o final de semana ser perfeito, tinha que ter um lanche. E as coisas foram caminhando assim.
O problema foi quando eu comecei a ver o reflexo disso na balança. Eu sou baixinha, tenho 1,57 de altura, e cheguei a pesar 56kg (aos 22 anos). A essa altura a minha autoestima estava no lixo. Voltou a fase de não usar blusas de alça, voltou o choro, a revolta com o corpo, o ódio de mim mesma. E, estranhamente, parecia que a comida era a válvula de escape para a minha dor. Era como um anestésico, uma fonte de prazer.

Quem já viu essa montagem aqui? 😜

Não preciso dizer que as pessoas (ah! Sempre as pessoas!) desempenharam brilhantemente a função de me fazer sentir ainda pior. E, depois de muitos comentários desagradáveis, resolvi procurar uma nutricionista e, depois de um tempo passado, fazer dieta.
Aí eu já estava muito motivada e perdi MUITO PESO. Foi nessa época que eu escrevi esse post aqui.
Se você já leu o post, deve ter notado a minha intensa preocupação em deixar claro que não tenho transtorno alimentar.  Bullshit!! Minha vida sempre foi um inferno em relação ao meu corpo e, naquela época, no auge da minha realização pessoal, eu jamais admitiria que tinha um problema. Depois desses 8kg perdidos, perdi mais 6 e cheguei aos 42kg.

Eu levei biscoito nesfit e H2O (porque não tem caloria) pra essa viagem.

Quando o pânico de engordar apareceu, eu não percebi de cara. Eu fazia um “dia do lixo” uma vez por mês, mas não me permitia um palito de batata frita nos “dias da dieta”. Parei de comer doces, parei de jantar. Até que um dia eu comentei com um colega de trabalho que eu tinha medo de comer algumas coisas. Ele me ligou um alerta: pediu para que eu lesse a respeito de transtornos alimentares, pois ter medo de comer não era uma coisa normal.

Mas a vida seguiu. Casei. Casei magérrima. 42kg, vitoriosa!



Mas é aquilo, meus amigos... eu casei. Quase todo mundo engorda quando casa. E eu engordei 5kg.
Mais uma temporada de sofrimento começou. Novas crises de choro, autoagressão (mental e física), dor, pânico de ficar gorda de novo, vergonha a cada quilo ganho.
Acho que vergonha é a palavra perfeita pra definir esse processo. Eu queria esconder o fato de estar engordando. E, na realidade, a maioria das pessoas nem percebia que eu estava.

Roupa preta e de manga, de novo. =( 

Resolvi procurar uma psiquiatra. Ela me receitou antidepressivos (que eu nunca tomei por uma série de questões pessoais) e me encaminhou pra psicologia.
Foi aí que eu ouvi pela primeira vez o termo “transtorno dismórfico corporal”.  Segundo a psicóloga, eu não consigo enxergar meu corpo magro. É como se existisse algo, entre mim e o espelho, que distorce a realidade.
Exemplo: eu tenho um SÉRIO problema com meus braços. Tenho uma gordura abaixo da axila que me mata emocionalmente. Foi por causa dela que parei de usar blusas de alça em algumas temporadas da minha vida. De acordo com as pessoas à minha volta, a gordura não é tão grande assim. E eu a enxergo gigantesca.  =/

Até onde eu sei, psicólogos não podem diagnosticar, mas essa foi a única vez na minha vida que encontrei sentido pra todo meu sofrimento com meu corpo. Eu me identifiquei com cada aspecto da condição e hoje entendo bastante o que acontece na minha mente.  Conhecer o problema é o passo inicial para combatê-lo.

Porém eu não continuei a terapia. Não me julguem, eu tenho meus motivos:
1. Existem duas linhas de pensamento em relação à origem de um TDC: a primeira diz que é algo social, relacionado a fatores externos, ou traumas vividos pelo paciente. A segunda afirma que é uma questão bioquímica, ou seja, a pessoa já nasce com a falta de algo no organismo, que a leva a ter essa distorção da própria imagem.
Minha psicóloga era da segunda linha. Ela tentou me convencer de várias formas, que eu devia iniciar o tratamento com antidepressivos. E, me conhecendo, eu sei que passei por traumas suficientes pra crer que meu caso não é bioquímico. Eu queria apenas seguir com a psicoterapia.

2. Eu sei, eu poderia ter procurado outra profissional. Só que eu tenho um plano de saúde que deixa a desejar: são 20 minutos de terapia por semana e, embora os psicólogos consigam estender a 30 minutos, a espera acaba sendo infernal. A sala de espera é um horror (sério mesmo) e você passa o dia inteiro lá.

3. Eu não tenho dinheiro pra pagar um profissional fora do plano. Sad but true.

Mas, Lita, como você está hoje?

Hoje eu to feliz com meu ovo de páscoa. -q 

Atualmente eu estou bem. Eu acho.  '-'
Eu ainda tenho crises de depressão por causa do meu corpo, mas são bem menos frequentes.
Eu faço musculação (porque eu gosto) e, atualmente, tenho tentado manter uma alimentação balanceada.
Estou tentando me convencer de que está tudo bem se meu peso aumentar eventualmente.
Eu digo pra mim mesma que tudo bem se eu comer doces ou batatas fritas uma vez ou outra (e não é pecado mortal se isso acontecer durante a semana).
Sigo pessoas na internet, participo de grupos de apoio e sei que isso não substitui terapia, mas me ajuda muito!
Estou aprendendo (a passos de formiga) a aceitar e acreditar nos elogios das pessoas que eu amo.
Sei que exercícios físicos me fazem bem, então eu faço.
Hoje eu consigo controlar os episódios de compulsão e não preciso mais de “dia do lixo”, já que procuro saciar minhas vontades de comer na hora que as tenho (assim eu como porções normais e não “guardo a vontade” pra “dias liberados”, em que comeria um boi inteiro).

Fazendo trilha porque eu AMO, e não porque odeio meu corpo.  😎

Tá, e pra que esse post?
Porque eu imagino que seja muito difícil entender minha cabeça, e eu gostaria de poder auxiliar meus amigos nisso.
Porque eu sei que muita gente pode estar passando pelo o que eu passei e não entende o que acontece na própria mente. Talvez esse post ajude.
Porque eu tenho medo que casos como o meu continuem acontecendo, e que crianças continuem sendo machucadas com mentiras que são ditas sobre seus corpos.
Porque adultos também podem aprender a serem gentis e entender que uma palavra errada pode matar um ser humano. (Literalmente. Tem gente que se mata.)

E eu termino dizendo que, a partir de agora, eu me sinto mais à vontade pra relatar meus progressos. =D
Nos próximos posts eu posso falar a respeito dos meus pensamentos, posso indicar as pessoas que eu sigo e compartilhar com vocês um pouco da minha opinião a respeito da indústria da magreza (sim, é uma indústria).
Eu espero que vocês compreendam que tudo o que eu compartilhar com vocês daqui pra frente a respeito disso, também será uma chance que darei a mim mesma de trilhar meu caminho pra recuperação.
Agradeço muito a paciência de quem leu até aqui. Vocês são demais! 💕